Em setembro de 2024, o presidente da CVM, João Pedro Nascimento, publicou um artigo em que analisava os desafios e perspectivas para as companhias abertas no Brasil.
Ele destacou a ausência de IPOs e a redução dos follow-ons, reflexo não apenas do ambiente macroeconômico, mas também de características estruturais do nosso mercado.
Ainda assim, sua visão foi otimista ao mostrar que, mesmo em um cenário difícil, havia espaço para crescimento das ofertas de dívida e para avanços regulatórios que poderiam abrir caminho para um novo ciclo de oportunidades.
O que me chama a atenção nesse diagnóstico é como ele ilustra bem a dinâmica brasileira. Enquanto os juros altos desestimulam a renda variável e fortalecem a alocação em renda fixa, observamos companhias buscando fontes alternativas de crédito, especialmente via mercado de capitais.
As emissões de debêntures e notas comerciais seguiram em expansão, reforçando a ideia de que, mesmo em cenários adversos, existe espaço para inovação e crescimento.
Estruturas de capital e escolhas estratégicas
Outro ponto abordado por Nascimento, e que considero central, é a diferença entre o modelo brasileiro e o norte-americano no que diz respeito à estrutura de capital.
Aqui, a predominância é de companhias com controle concentrado, o que significa que a decisão sobre abrir capital ou realizar uma oferta pública depende da visão de poucos controladores.
Isso torna os ciclos de IPOs mais longos e seletivos, já que os acionistas aguardam o que consideram ser o melhor momento de mercado.
Esse comportamento preserva as empresas de movimentos precipitados, mas limita a fluidez do mercado e a possibilidade de o investidor ter acesso a um fluxo mais constante de novas companhias.
É justamente aí que vejo a necessidade de uma mudança cultural, que complemente os avanços regulatórios e incentive empresas a pensarem no mercado de capitais como um instrumento de desenvolvimento contínuo e não apenas como uma decisão pontual em momentos específicos.
Regulação como indutora de crescimento
A regulação tem desempenhado um papel decisivo nesse processo.
A Resolução 160, editada em 2022, trouxe simplificação e clareza para os procedimentos de registro, facilitando o caminho tanto para companhias abertas quanto para ofertas públicas.
Mais do que uma questão burocrática, essas mudanças reduziram custos e deram maior previsibilidade, especialmente para empresas de médio porte que desejam acessar o mercado.
Nos últimos anos, a CVM tem reforçado seu papel desenvolvimentista, buscando equilibrar a proteção ao investidor com a criação de condições para ampliar a base de emissores e de investidores.
Vejo esse movimento como essencial para que o Brasil consiga dar o próximo passo no amadurecimento do seu mercado de capitais.
Não basta esperar por juros mais baixos. É preciso criar um ambiente em que o acesso seja mais democrático e menos restrito a grandes companhias.
Inovação e tokenização como complemento
Nesse cenário, não posso deixar de conectar essa discussão àquilo que vivemos de perto no universo da tokenização.
O que observo é que, em paralelo à dinâmica tradicional de IPOs e debêntures, cresce um mercado que oferece alternativas digitais de captação e investimento, estruturadas com base em blockchain e smart contracts.
A tokenização não substitui o mercado de capitais, mas o complementa, criando um ecossistema mais ágil, transparente e acessível.
Na Liqi, temos visto como esse movimento pode ser transformador para empresas que ainda não têm porte ou maturidade para abrir capital em bolsa.
Por meio da emissão de tokens lastreados em ativos financeiros, companhias conseguem acessar recursos de forma mais eficiente, ao mesmo tempo em que investidores encontram novas oportunidades de diversificação.
Esse tipo de inovação, alinhado ao esforço regulatório da CVM, abre espaço para um mercado mais plural e conectado ao futuro.
Um horizonte de mudança cultural
Ao olhar para frente, acredito que o grande desafio não será apenas macroeconômico. Ele será, sobretudo, cultural.
Precisamos de um mercado em que empresas estejam mais dispostas a abrir capital, em que investidores se sintam mais confiantes para alocar recursos em renda variável e em que a regulação continue a equilibrar segurança e inovação.
Essa transição já começou, e é animador ver que a agenda do regulador está alinhada com a necessidade de ampliar o alcance e a diversidade do mercado de capitais brasileiro.
Seja por meio de IPOs tradicionais, de operações de dívida ou das diversas possibilidades dos tokens de ativos financeiros, o que enxergo é a construção de um mercado cada vez mais inclusivo, transparente e dinâmico.
É justamente essa combinação de fatores que me faz acreditar que estamos às portas de um novo ciclo de crescimento para as companhias abertas no Brasil.
Sobre o autor
Daniel Coquieri é CEO da empresa de tokenização de ativos Liqi Digital Assets. Empreendedor do ramo da tecnologia, foi fundador da BitcoinTrade, uma das primeiras corretoras de criptomoedas do Brasil.
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